Desenvolvido a partir dos códigos-fonte do sistema operacional Red Hat Enterprise Linux (RHEL), o CentOS – acrônimo de Community ENTerprise Operating System – é uma distribuição Linux gratuita, voltada para o ambiente corporativo, e que agrega as vantagens técnicas da distribuição na qual se baseia: segurança, estabilidade e compatibilidade com diversos hardwares e pacotes criados especificamente para o RHEL.
Um clone do RHEL
De acordo com algumas pesquisas realizadas no ambiente corporativo, o Red Hat Enterprise Linux – distribuído pela Red Hat, Inc. – é atualmente apontado como o líder de participação entre as distribuições Linux. Um resultado que pode ser atribuído às suas importantes vantagens para esse mercado, dentre elas:
- Uma grande base de softwares e hardwares certificados.
- Uma série de programas de parceria.
- Longo ciclo de suporte para cada versão da distribuição (7 anos).
- Excelente desempenho, segurança, escalabilidade e disponibilidade, com testes de performance auditados pela indústria.
- Tecnologias de código aberto rigorosamente testadas através do projeto Fedora, patrocinado pela Red Hat.
- Excelente interoperabilidade com outros sistemas Unix e Microsoft® Windows®.
Pode-se, entretanto, subtrair dessas vantagens o alto custo da distribuição que impede as pequenas e médias empresas de instalarem o RHEL em seus servidores ou estações de trabalho. O pagamento neste caso é obrigatório e está vinculado exclusivamente ao suporte técnico oferecido pela Red Hat.
Apesar desse custo, a Red Hat cumpre o seu compromisso com os princípios de código aberto, bem como dos softwares de código aberto utilizados, e libera os códigos-fonte de todos os pacotes disponíveis no RHEL, permitindo dessa forma que qualquer pessoa ou instituição recompile e utilize toda ou partes da distribuição sem absolutamente nenhum custo, somente com a única e justa condição de remover as marcas registradas e os logotipos da Red Hat.
É com base nesse princípio que, em meados de Maio de 2004, surgiu a primeira versão do CentOS, baseado no Red Hat Enterprise Linux 2.1. Desde então, a distribuição revelou-se uma opção gratuita para as empresas que gostariam de contar com as vantagens técnicas do RHEL mas que não tinham condições de pagar por sua licença, ou para aquelas que simplesmente não necessitavam do suporte técnico da Red Hat.
Versão do CentOS | Arquiteturas suportadas | Versão do RHEL (base) |
2 | i386 | 2.1 |
3.9 | i386, x86_64, ia64, s390, s390x | 3 Update 9 |
4.6 | i386, x86_64, ia64, ppc (beta), alpha, sparc (beta), s390, s390x | 4 Update 6 |
5.1 | i386, x86_64 | 5 Update 1 |
Com o passar do tempo, o projeto do CentOS ganhou força e notoriedade em relação as outras distribuições “clones” do RHEL, entre elas o Scientific Linux, Tao Linux (projeto encerrado em Junho de 2006) e o White Box Enterprise Linux. Agora na versão 5.1, baseado no RHEL 5.1, o CentOS já desfruta de uma base sólida de usuários, boa quantidade de documentação, e uma lista de discussão bastante ativa, com apoio dos mantenedores e da grande comunidade que cresceu em torno dessa distribuição.
Download e instalação
Existem aproximadamente 140 mirrors públicos para o CentOS onde podemos obter as imagens ISO dos seus CDs ou DVD de instalação de todas as versões lançadas a partir do 3.4. Esses mesmos mirrors exercem também o papel de repositórios dos pacotes RPM, usados pelas ferramentas de gerenciamento de pacotes como o yum.
Para a versão 5 ainda existe uma novidade: um CD de instalação chamado NetInstall com um tamanho que não ultrapassa 7 MB. A partir dele, o processo de instalação obtém todos os pacotes RPM através da rede (NFS, FTP, HTTP), que combinado com repositórios personalizados, agiliza a instalação e configuração de múltiplos servidores.
Felizmente, o CentOS também herda do RHEL o seu programa de instalação, o Anaconda. Nele, todo o processo é guiado com clareza e simplicidade suficiente, ao mesmo tempo que permite realizar configurações muitas vezes essenciais para servidores, como a configuração do Firewall e SELinux, criação de partições utilizando Software RAID e LVM, e seleção de pacotes individuais ou por grupos. É importante revelar que o Anaconda também é um projeto da Red Hat licenciado sob a GPL.
Um recurso interessante e útil do programa de instalação Anaconda é o Kickstart. Através dele o administrador poderá automatizar todo o processo de instalação, colocando em um arquivo todas as respostas para as questões que normalmente são feitas durante esse processo. Isso faz do Kickstart uma prática opção para acelerar a instalação de servidores e estações de trabalho em empresas onde esse procedimento é corriqueiro.
Política e procedimento de atualização
Diferente do projeto Fedora – cuja atualização ocorre praticamente a cada 6 meses – a Red Hat garante um longo ciclo de vida para cada versão do RHEL. Como referência, o RHEL 5 foi lançado no início de 2007, 2 anos após o lançamento do RHEL 4, e com garantia de suporte até 2014. Essa política de atualização e o longo tempo de suporte são características típicas de distribuições corporativas, responsáveis por garantir uma qualidade muito apreciada pelas empresas, a estabilidade.
Após o lançamento de uma nova versão do RHEL, como o RHEL 5, são priorizadas as atualizações de segurança e correções de bugs dos softwares que integram essa versão da distribuição, essas correções são feitas usando uma técnica conhecida como Backporting. Novas funcionalidades são geralmente adicionadas após a atualização para um novo release, como, por exemplo, o RHEL 5.1. Antes de ser disponibilizado nos repositórios, os pacotes atualizados são rigorosamente testados pela Red Hat para evitar, ou pelo menos minimizar, qualquer impacto na estabilidade ou desempenho do sistema
Evidentemente o CentOS se beneficia dessa mesma política, lançando suas atualizações poucos dias após a Red Hat liberá-las, com um diferencial que pode ser importante para determinadas empresas – conta com repositórios adicionais, mantidos pelo próprio projeto, e que possuem alguns pacotes de softwares nas versões mais recentes. Entretanto, por não serem distribuídos no RHEL, não são suficientemente testados e podem afetar a estabilidade do sistema em alguns casos.
A partir da versão 5.0, a tarefa de atualizar e gerenciar os pacotes no CentOS passou a ser exclusivamente do software yum (Yellow dog Updater, Modified), substituindo definitivamente o up2date, presente nas versões anteriores. O yum é um programa de gerenciamento de pacotes por linha de comando para sistemas operacionais baseados em RPM, comparado, por exemplo, ao notável apt-get do Debian. Atualmente o yum é considerado um software bastante estável e maduro, sendo usado como base para várias ferramentas gráficas de gerenciamento de pacotes, entre elas o pup, pirut, e o yumex.
Softwares
Um dos pontos mais criticados do RHEL, e conseqüentemente do CentOS, são as versões dos softwares disponibilizados na distribuição, consideradas muito antigas em relação a última versão estável disponível (ver tabela comparativa de versões).
Essa discordância entre as versões é resultado da já mencionada política de atualizações da Red Hat que, se por um lado oferece estabilidade, por outro desestimula os usuários que preferem contar com as novidades dos softwares mais recentes.
Software | Versão no CentOS 5.1 | Última versão estável |
Kernel | 2.6.18 | 2.6.23 |
Mozilla Firefox | 1.5.0.12 | 2.0.0.11 |
Mozilla Thuderbird | 1.5.0.12 | 2.0.0.9 |
OpenOffice | 2.0.4 | 2.3.1 |
Gnome | 2.16 | 2.20 |
MySQL | 5.0.22 | 5.0.51 |
PostgreSQL | 8.1.9 | 8.2.6 |
Apache | 2.2.3 | 2.2.6 |
PHP | 5.1.6 | 5.2.5 |
Outro ponto importante de discussão é o kernel. No RHEL 5 alguns módulos e opções considerados instáveis são desativados por padrão, como, por exemplo, os sistemas de arquivos XFS, ReiserFS e JFS, além de vários módulos USB, Firewire e SCSI. Então, para permitir uma alternativa aos usuários que sentem falta desses recursos, os responsáveis pelo CentOS mantêm em um repositório chamado CentOSPlus um kernel recompilado (kernel-2.6.x.xxx.el5.centos.plus), com todos esses módulos e opções ativados.
Mesmo com uma razoável coleção de softwares espalhada nos 6 CDs do CentOS 5, existe ainda uma grande quantidade de pacotes RPM disponíveis em outros repositórios na Internet. Entre esses repositórios destaca-se o RPMForge, com mais de 4.000 pacotes compatíveis com todas as versões do CentOS.
Documentação e suporte
Como fruto do recente ganho de popularidade e espaço nas empresas, o CentOS passou a servir de base para muita documentação disponibilizada na Internet, sobre os mais diversos e específicos assuntos. E junto a essa fartura de documentação, somam-se os próprios manuais do RHEL, disponíveis nos CDs de instalação e traduzido em várias línguas, além de um Wiki publicado no site oficial, onde é possível encontrar HowTos, dicas, FAQ e acompanhar algumas novidades sobre a distribuição.
Outra fonte de informação útil para usuários do CentOS é a Base de Conhecimento (knowledgebase) da Red Hat. Ela é uma biblioteca de dicas, procedimento para resolução de problemas e informações adicionais, atualizada diariamente pelos técnicos da Red Hat com base nas questões mais freqüentes obtidas pela equipe de suporte. Vale citar também a existência das erratas, com detalhes das atualizações liberadas para a distribuição.
No caso de alguma informação não estar na web ou nos manuais, ainda é possível recorrer as melhores fontes de conhecimento e suporte do CentOS: seu fórum e suas listas de e-mail. Eles já contam com uma grande quantidade de mensagens acumuladas em seus históricos e um bom número de membros bastante prestativos, incluindo alguns dos mantenedores da distribuição.
CentOS em Laptops
Há não muito tempo foi colocado em discussão na lista de e-mail do CentOS um projeto para alavancar e prestar informações para o uso da distribuição em Laptops. Inicialmente desinteressante para essa esfera de usuários – já que o foco do CentOS é principalmente os servidores e as estações de trabalho – muitos já se convenceram que a estabilidade e confiabilidade de uma distribuição é um fator muito mais importante do que ter as últimas versões dos softwares em seu sistema operacional. Pensando nisso, a comunidade foi encorajada a reunir na Wiki as informações sobre suas experiências com o CentOS em Laptops.
Considerações finais
Embora sob algumas críticas, a Red Hat pode ser considerada responsável por grandes avanços do Software Livre dentro do mercado corporativo. Consolidou-se líder em soluções Open Source e criou uma relação de confiança com as empresas, principalmente através de sua distribuição, o Red Hat Enterprise Linux.
Seguindo esse sucesso do RHEL, o CentOS surgiu apenas como mais um clone gratuito dessa distribuição. Com o passar do tempo, tornou-se o mais profissional entre eles, construindo em sua volta uma comunidade de usuários ativa e tendo como alicerce a boa quantidade de documentação e repositórios pela Internet. Suas atualizações são lançadas rapidamente, na maioria das vezes levando alguns poucos dias após a Red Hat liberá-las.
Por essas e outras razões, o CentOS tem conseguido conquistar um importante espaço no ambiente corporativo, transformando-se em uma escolha segura e confiável para as empresas.
Referências
Hughes, Johnny (01-04-2006). CentOS Review. Linux Magazine. Acessado em 18-12-2007.
Sims, Gary (18-04-2007). CentOS 5 is a solid enterprise OS. Linux.com. Acessado em 18-12-2007.
Kerner, Sean Michael (17-04-2005). CentOS 4 Offers Strong RHEL Alternative. LinuxPlanet. Acessado em 20-12-2007.
Meus parabéns pelo artigo! Meu nome é Roberto Bechtlufft, tenho um site de Linux – que anda meio parado – em http://www.linuxparaoresgate.com, e há mais ou menos um ano comecei a usar o CentOS, e passei a instala-lo para os meus clientes.
Queria ter lido seu artigo antes,é uma excelente introdução ao sistema, e reúne as informações mais relevantes – como a questão das erratas, da base de conhecimento, enfim, coisas que eu fui descobrindo bem aos poucos. Muito bom mesmo.
Estou indicando o link para a turma do fórum brasileiro do CentOS:
http://centosbr.org/site/forum/viewtopic.php?viewmode=flat&type=&topic_i…
Será que você veria algum problema em liberar o texto para ser publicado no Wiki, para que pudesse ser complementado?
Valeu pelo artigo, abraços…
Olá Roberto,
Agradeço os comentários em relação ao artigo.
Esse artigo, assim como os futuros, está sob os termos da licença GNU FDL, garantindo permissão de copiar, modificar ou distribuir o documento.
Aproveitei para incluir essa informação no rodapé da página.
Um abraço,
Heitor Augusto Murari Cardozo
Muito bom este review, quando sai o próximo????? 🙂
vc trabalha com CentOS????
Participa la da comunidade http://www.centosbr.org
valeu
[]s
Esclareceu e apresentou bem as questões sobre o CentOS. Parabéns.
http://www.baselivre.org