Xen permite ultrapassagem do KVM

O Xen popularizou a virtualização nos servidores Linux e pareceu por um longo tempo ser a tecnologia preferida neste ambiente. Mas os desenvolvedores do Xen perderam essa vantagem ao definirem as prioridades erradas. O KVM foi capaz de assumir algumas posições-chave e, com um grande número de patrocinadores, se encontra agora em uma posição melhor.

Criado originalmente como parte de um projeto de pesquisa no final dos anos 90, o Xen se tornou um software open source em 2002, enquanto o primeiro lançamento oficial da versão 1.0 ocorreu em 2004. A partir de então, a virtualização nos servidores Linux rapidamente se mudou para o centro das atenções. Em 2005 surgiram os primeiros indícios de que não demoraria muito para que o suporte ao Xen se tornasse parte do kernel Linux – nesse período a virtualização era considerada uma tecnologia com um mercado promissor.

E a virtualização, de fato, tornou-se importante, apesar do suporte ao Xen ainda não ter sido incluído no kernel. Em um determinado momento o trabalho a ser feito para incluir esse suporte teve baixa prioridade, enquanto o esforço era direcionado para o desenvolvimento das ferramentas comerciais baseadas no Xen. Por conta disso, o código oficial do Xen permaneceu baseado no kernel 2.6.18 por um longo tempo, dificultando a vida das distribuições Linux – já que eles queriam casar o suporte à virtualização com as versões mais recentes do kernel, contendo drivers de hardwares mais modernos.

Os desenvolvedores do Xen só conseguiram chegar perto desse objetivo quando o suporte aos sistemas hóspedes (guest) foi incluído no kernel 2.6.23. Agora, ao que tudo indica, eles finalmente conseguiram: o Linux 3.0 irá incluir todos os componentes importantes necessários para configurar um sistema operacional Dom0, que, juntamente com o Hypervisor, executa e controla os sistemas hóspedes. E isso não é tudo, desde meados de maio, a versão em desenvolvimento do Qemu também contém tudo o que é necessário para suportar sistemas hóspedes do Xen, executados com uso dos recursos de virtualização dos processadores modernos (HVM, Virtualização Assistida por Hardware).

Para as distribuições agora será mais fácil incluir o suporte ao Xen. Mas a situação ainda não é perfeita: o Linux 3.0 não irá oferecer todos os recursos presentes nos produtos comerciais atuais – ainda está faltando o suporte para suspender a VM para a RAM e gráficos 3D. Adaptações destas e de outras funções ainda levarão tempo.

Há muitos indícios de que os desenvolvedores deveriam se esforçar mais para incluir o suporte ao Xen no kernel oficial antes. Afinal, enquanto o Xen dificultava a vida dos desenvolvedores e usuários de distribuições, uma nova estrela da virtualização surgiu no horizonte do mundo open source: KVM (Kernel-based Virtual Machine). Seu código passou a fazer parte do kernel Linux na versão 2.6.20. Ao contrário do Xen, que se coloca entre o hardware e o kernel, o KVM faz do próprio kernel o hypervisor – uma abordagem que alguns desenvolvedores do kernel consideram ser mais elegante.

No início o KVM não chegava nem próximo das funcionalidades e da velocidade do Xen. Mas logo muitos desenvolvedores de softwares open source, distribuições Linux, e empresas como AMD, Intel e IBM começaram a se interessar pelo KVM e contribuíram com uma série de melhorias, de modo que o KVM ganhou um impulso e até passou o Xen em alguns aspectos. A dependência de processadores com extensões de virtualização já não é mais um problema, pois praticamente todos os processadores para servidores possuem esse suporte atualmente.

O KVM ganhou mais importância quando a peso pesado do Linux Red Hat comprou a Qumranet – responsável pelo seu desenvolvimento – e o escolheu para sua nova solução de virtualização. O Red Hat Enterprise Linux (RHEL) 6 agora usa apenas o KVM para virtualização e já não possui o suporte ao Xen, que mesmo no RHEL 5 foi considerado uma grande inovação. Outros players também mostraram muito interesse no KVM: o SuSe Linux Enterprise (SLE) 11 tem o KVM desde meados de 2010. Um consórcio criado recentemente por alguns pesos pesados da tecnologia é dedicado à promoção do KVM – o grupo inclui HP e IBM, que obviamente prefere usar o KVM quando entregou os resultados do benchmark de virtualização SPECvirt_sc2010. Além disso, uma nova ferramenta de virtualização para o KVM está sendo desenvolvida.

Em contraste, o hype sobre o Xen caiu bastante recentemente, embora isso possa mudar com a inclusão do suporte no Qemu e no kernel Linux. Nos últimos dois anos, o KVM ganhou muitos usuários e posições-chave por ser integrado no RHEL e SLE. O tempo dirá se o Xen será capaz de recuperar o terreno perdido, mas pelo ritmo de desenvolvimento do KVM, parece mais provável que, em longo prazo, o KVM se torne o mais importante hypervisor para servidores Linux. Se o Xen fizesse parte do kernel a cinco ou seis anos atrás, o KVM poderia não ser tão grande e conhecido como atualmente, pelo menos não tão rapidamente.

Esse texto é uma tradução livre e adaptada do artigo Xen lets KVM overtake de Thorsten Leemhuis.

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