“Eu trabalho sozinho em casa. Sempre trabalhei. Foi assim que iniciei o desenvolvimento do Linux. Não o iniciei como um projeto colaborativo, mas sim como um entre vários projetos que tinha feito na época. Em parte, porque eu precisava ver o resultado final, mas, principalmente, porque eu apenas gostava de programar”.
Assim Linus Torvalds descreve o início do desenvolvimento de um software (mais especificamente, o núcleo de um sistema operacional) lançado em 1991 e que, atualmente, está em dois terços de todos os servidores da Internet; nos 500 maiores supercomputadores do mundo; em 75% dos smartphones (o Android é baseado no Linux); nos sistemas de controle de tráfego aéreo e em inúmeros equipamentos médicos. O Grande Colisor de Hádrons e o foguete Falcon 9, da SpaceX, usam o Linux em seus sistemas de controle. Também é possível que ele esteja na sua Smart TV, no seu roteador de Internet e, futuramente, na sua geladeira e no seu carro autônomo.
Um software criado por um jovem finlandês hoje influencia mais as nossas vidas do que qualquer outro, desafiando empresas como a Microsoft e Apple e sendo fundamental para os negócios de outras gigantes como o Facebook, Google e Amazon.
São vários os fatores que levaram o Linux ao sucesso, assim como outros softwares livres/código aberto, mas os principais, sem dúvida, se resumem à colaboração. De acordo com um relatório apresentado em 2017 pela Linux Foundation, uma organização sem fins lucrativos criada para fomentar o crescimento do Linux, desde 2005, 15.637 desenvolvedores de mais de 1.400 empresas contribuíram para o Linux. Apenas em 2016, foram mais de 4.300 desenvolvedores.
Nas organizações, isso não é uma novidade. Uma cultura de colaboração resulta em inovação, melhores produtos, maior produtividade e capacidade de agir rapidamente. Especialmente no setor de tecnologia da informação, as metodologias mais recentes de desenvolvimento e manutenção de softwares priorizam o trabalho colaborativo. Não à toa, as empresas emergentes (startups) criam espaços de trabalho que encorajam esse comportamento.
A tecnologia é fundamental para conseguirmos realizar a conexão entre os colaboradores e aprimorarmos a comunicação em grande escala. De acordo com um porta-voz do Slack, uma plataforma de colaboração que atualmente supera os 8 milhões de usuários diários, “estamos nos estágios iniciais de uma transformação de 100 anos sobre como as pessoas vão trabalhar e se comunicar”. O próprio Linus Torvalds enxergou a necessidade de uma nova ferramenta para organizar melhor as contribuições que são feitas para o Linux e criou um sistema de controle que se tornou o padrão de fato para o desenvolvimento colaborativo de software.
Embora pesquisas recentes mostrem que as pessoas são mais produtivas quando trabalham sozinhas, a criação e desenvolvimento de novas ideias é cada vez mais um processo colaborativo. A ciência hoje se tornou muito complexa e especializada para que uma única pessoa consiga avanços significativos. O próximo passo da evolução do nosso conhecimento não depende mais de alguns poucos cérebros privilegiados, mas de como conectamos eficientemente a maior quantidade de cérebros hiper-especializados na pesquisa e desenvolvimento. O Linux é a prova disso.